Um tema tabu que é a terceira causa de morte entre jovens brasileiros, sendo a primeira entre adolescentes do sexo feminino e a segunda entre adolescentes do sexo masculino: o suicídio. Para debater o assunto, o Programa Municipal Saúde na Escola (PSE) realizou nesta segunda-feira (10) o I Seminário “Valorização da Vida para Professores: Prevenção ao Suicídio em Ambiente Escolar”. O evento, que aconteceu no auditório do Instituto Federal Fluminense (IFF) polo Centro, foi voltado para professores de todas as redes e reuniu palestras de psicólogas e psiquiatra.
O seminário foi gratuito e os participantes apenas contribuíram com a doação de latas de leite em pó ou fralda geriátrica, que serão distribuídos em asilos. A escolha da data não foi aleatória. O dia 10 de setembro é o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio e durante todo o mês é realizada a campanha conhecida como “Setembro Amarelo”. Entretanto, em Campos, o debate se estenderá a outubro, quando um novo seminário com a mesma temática acontecerá, com data e local ainda a definir, devido à grande procura para o primeiro evento.
— No passado, o suicídio no Brasil não era um problema tão presente, como em países mais desenvolvidos. Mas isso mudou. Hoje precisamos mobilizar a sociedade em torno do tema. Disseminar informação para reduzirmos este dado, principalmente, entre os nossos jovens — destacou o secretário municipal de Educação, Brand Arenari, ressaltando que a secretaria trabalha o assunto através do PSE e de programas como o Tamo Junto, que é de fortalecimento de vínculos familiares com a comunidade escolar.
O PSE é um programa do Governo Federal desenvolvido em Campos através das secretarias de Saúde e Educação. No final do ano passado, a equipe do programa criou o projeto Valorização da Vida, que realiza rodas de conversas com estudantes da rede municipal. “Levantamos com os estudantes três questões principais: o autoconhecimento, como lidar com as frustrações e a importância de ter objetivos na vida. Só falamos sobre o suicídio no final. Nosso resultado tem sido muito positivo”, explica a psicóloga Engracia Gabriel.
Durante o evento, Engracia expôs o trabalho realizado junto aos estudantes. Criação de vínculos, prevenção da violência escolar e identificação de alunos em risco são algumas das ações. A psicóloga também apresentou dados da pesquisa realizada, no momento da inscrição para o seminário, com os professores. Mais de 55% respondeu ter conhecimento de suicídio ou tentativa na sua unidade de ensino, sendo a maioria dos casos entre alunos e a questão familiar a principal causa, seguida da sexualidade, aliada ao bullying.
Muitos dados alarmantes da incidência, causas e o crescimento de casos também foram apresentados pelo psiquiatra da rede municipal de saúde, Cláudio Teixeira. Cláudio, que faz atendimento no Hospital Ferreira Machado a pessoas que tentaram suicídio, disse que o número de casos aumentou significativamente nos últimos anos, principalmente entre crianças e adolescentes.
— O suicídio envolve a sociedade como um todo, pois decorre de diversos fatores: psicológicos, sociais, culturais, familiares, ambientais e genéticos. Falar é o ponto de partida para prevenir. E isso é muito difícil, pois a sociedade estigmatiza esta pessoa como fraca, mal resolvida, “sem Deus”. Tenho atendido cada dia mais crianças. Para uma criança dizer que a vida não tem graça e tentar suicídio é preciso que muita coisa esteja errada. Não são casos isolados. O bem-estar social previne. Há estudos que relacionam o aumento no número de casos em sociedades mais individualistas. Freud já dizia que o bem-estar individual é uma ilusão — enfatiza Cláudio, ressaltando o problema do bullying, como uma grande causa entre os jovens por eles atendidos.
Entre os fatores psicológicos que levam ao suicídio, a depressão e a ansiedade são os principais. A psicóloga, especialista em suicidologia, Zilene dos Santos Silva, tratou o assunto “Geração de alienados numa sociedade adoecida”, também fazendo uma abordagem sobre a automutilação. “É uma válvula de escape emocional muito perigosa. Uma forma de preencher um vazio. Precisamos deixar o estigma de lado e falar sobre o assunto. Verificar se o aluno tem marcas de cortes, de queimaduras, ou outras formas de violência auto infligida", frisa.
Também participou do evento o diretor geral do IFF, Carlos Alberto Fernandes Henriques, que ressaltou a parceria com a secretaria de Educação e propôs mais trabalhos em conjunto, e a coordenadora do PSE, Cátia Mello. Segundo Cátia, o novo evento será voltado para o público em geral.