Um dia após palestra para secretários, superintendentes e demais gestores municipais, no Museu Histórico de Campos, sobre o tema “Mobilidade Urbana: haverá futuro para as cidades?”, a especialista Clarice Linke versou sobre o mesmo assunto, nesta quarta-feira (7), para alunos do Instituto Federal Fluminense (IFF). Para um auditório lotado, a maioria alunos de Arquitetura e Urbanismo da instituição, a mestra em Políticas Sociais pela London School of Economis e diretora do ITDP, sigla em inglês para Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento, apresentou ampla visão do que as cidades do mundo estão fazendo para resolver problemas de mobilidade. A iniciativa foi do Núcleo Gestor que discute a reformulação do Plano Diretor e implantação do Plano de Mobilidade Urbana.
— A administração municipal de Campos está no caminho certo, porque o país precisa debater hoje, a cidade que quer ter daqui a 30, 40, 50 anos. Por lei, todas as cidades com mais de 20 mil habitantes têm que implantar o Plano de Mobilidade Urbana. Infelizmente, nem 25% delas iniciaram esse processo — afirmou Linke.
A especialista lembrou que, na maioria dos casos, há muita resistência na implantação dos Planos de Mobilidade, porque contraria interesses. “Isso implica em retirar os carros das centralidades urbanas e incentivar a caminhada e o transporte não motorizado, bicicletas, por exemplo, e tambem a ampliação do transporte público coletivo. Também atualmente há o estímulo ao uso compartilhado de veículos, porém, não se sabe ainda que impacto isto causará na mobilidade. A substituição, dos veículos de combustão interna pelos elétricos, também é uma alternativa, porém, resolve apenas a emissão de gases poluentes e partículas na atmosfera das cidades, não o congestionamento." acrescentou.
Ainda segundo Linke, estão envolvidas no processo muitas outras variáveis que o cidadão comum muitas vezes não percebe. “Usar o carro elétrico ajuda, mas não resolve o problema. Porque temos que pensar em encurtar as distâncias ao usuário dos serviços, como educação, saúde e lazer, dentre outros. Isso implica em rediscutir e reordenar o uso do solo, pois não se pode pensar em mobilidade urbana sem a melhor utilização dos espaços” destacou Linke.
A especialista lembrou que muitas cidades brasileiras, como Fortaleza, Recife e Niterói tem obtido significativos avanços na área da Mobilidade. Mas que a maioria, mesmo com toda boa vontade, esbarra ainda na falta de recursos, sejam financeiros e até trcnicos. Ela citou exemplos de sucesso em todo o mundo. “Nova York é um dos maiores exemplos. Cidades da Dinamarca também. E da Holanda, onde, na década de 1970, a população abraçou a causa de tirar os carros das ruas.
— Eram muitos atropelamentos e mortes de crianças e eles resolveram dar um basta. Houve muita resistência das autoridades e setores da economia, mas a vontade popular acabou prevalecendo. E vai ser sempre assim em todos os lugares onde lutarem por mudança. Nova York era um inferno nos anos 1970, uma das cidades mais violentas do mundo, e hoje é outra cidade — exemplificou.
Os alunos puderam interagir, questionando sobre projetos que poderiam ser implantados na cidade. E aprovaram a iniciativa da Prefeitura. “Quando todos lutam por um mesmo objetivo e estão firmes na defesa de um propósito, é possível sim. Acredito que unindo forças, podemos ter uma cidade melhor”, opina a estudante de Arquitetura e Urbanismo Mariana Ávila, de 19 anos. “Creio que mudanças positivas são possíveis, se houver planejamento e seriedade”, completa o aluno de Mecânica Vanderson Moraes, 20 anos.
— Nosso trabalho envolve uma ampla discussão, ouvindo os diversos setores da sociedade e a população com a proposta de atualizar o Plano Diretor e criar o Plano de Mobilidade Urbana, para depois promovermos as ações para preparar o município para os próximos pelo menos 40 anos, contudo, uma estrutura institucional composta por técnicos de carreira, funcionários permanentes, é imprescindível. Após ouvir as instituições com leituras técnicas, vamos levar o assunto à comunidade com uma série de audiências públicas e grupos de trabalho para concluirmos de forma ampla e participativa o processo legal — observa o assessor especial do gabinete do Executivo, Renato Siqueira, que tem liderado o grupo gestor.