Os educadores da Escola dos Saberes têm um motivo a mais para comemorar neste dia 15, dedicado aos professores. Há seis meses, a Prefeitura de Campos por meio da Secretaria Municipal de Educação (Smece) e Superintendência do Envelhecimento Saudável e Ativo (Sesa), lançou o projeto que favorece a independência do idoso e valoriza a construção do conhecimento com noções de todas as matérias do 1º ao 5º ano, além dos conteúdos transversais. O projeto começou com 60 alunos e atualmente, tem cerca de 100 estudantes com mais de 60 anos de volta à sala de aula.
Regina Celi, de 70 anos, foi professora por 36. Aposentou-se, mas o dom de lecionar falou mais alto. Ela se inscreveu no processo seletivo da Prefeitura, foi convocada e, escolheu a Casa de Convivência de Dores de Macabu para viver uma “nova experiência”.
— Dei aula para criança e adolescente. Esta oportunidade de falar de igual pra igual é indescritível. Muitos amigos me criticam, dizem que eu poderia estar aproveitando a vida de aposentada. Mal sabem eles que eu estou aproveitando a vida: transmitindo o dom que Deus me deu a estas pessoas que não tiveram a mesma oportunidade que eu. Sou muito feliz com cada progresso dos meus alunos — afirmou Regina.
Em Campos, de acordo com dados de 2018 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 12 mil idosos não sabem, sequer, assinar o próprio nome. Na Escola dos Saberes, além de receber o conteúdo regular do Ensino Fundamental, eles têm aulas de economia doméstica, inclusão digital, história das próprias raízes. Os professores lecionam nas cinco Casas de Convivência: Tamandaré, Centro Dia, Conselheiro Josino, Travessão e Dores de Macabu; e adaptam o conteúdo fornecido pela coordenadoria da Smece às experiências de vida dos próprios idosos para abordar assuntos em sala de aula.
— O mais importante é ser um projeto libertador que dê mais autonomia à pessoa idosa, saber ler, escrever e, principalmente, compreender, os símbolos e signos tão presentes no dia a dia. Desde o momento em que conseguimos, junto com a Smece, trazer para dentro das Casas de Convivência, este projeto, ele se torna mais relevante ainda porque está no ambiente que o idoso já frequenta, facilitando, desta maneira, a adesão ao processo de aprendizagem, de leitura, matemática, ciências; de um modo geral. A Prefeitura de Campos proporciona emancipação através, inclusive, da educação da terceira idade — destacou Heloísa Landim.
Ao término do curso, os alunos receberão o certificado de conclusão de Ensino Fundamental I, consignado a uma Escola Municipal. Pessoas a partir de 60 anos de idade podem se matricular em uma das Casas de Convivência. Os professores são disponibilizados pela Smece, através da Educação de Jovens e Adultos (EJA), responsável pela formação dos educadores e pela elaboração do material pedagógico de apoio, acompanhamento dos núcleos e supervisão do progresso dos alunos. Segundo o secretário de Educação, Brand Arenari, um número significativo de idosos já está alfabetizado e letrado, com sucesso.
— Este projeto é a menina dos olhos da EJA, porque oportuniza que os idosos possam aprender a ler e escrever, resgatando parte da cidadania que um dia lhes foi negada — disse Brand.
Todas as Casas de Convivência têm seus destaques. Em Dores de Macabu, Claudio Francisco, de 60 anos, chegou tímido à Escola dos Saberes.
— Queria aprender, pelo menos, a ler para embarcar no ônibus certo sem depender de ninguém”, admite. “Atualmente, ele sabe ler e escrever! A letra é um capricho. E o controle motor melhorou muito — revela a professora Regina.