Lígia Aparecida Isaías divide seu dia entre a administração do sítio Águas Claras, no assentamento Zumbi dos Palmares, e as tarefas do lar. Ela vai cedo para o campo e acompanha a plantação de aipim e mandioca, que processa e transforma na já famosa Farinha da Bahiana. A assentada construiu a própria casa de farinha e conduz, praticamente sozinha, todo o processo de produção. Com muita disposição, Lígia planta e colhe. Na hora de processar a matéria-prima, é com agilidade que ela descasca e lava as raízes. Até esta fase, a agricultora conta com o ajuda da irmã Cristina Euclides, que ocupa parte da unidade familiar. Depois de triturar, Ligia conta com a própria força física para prensar e secar, manualmente, o aipim ou a mandioca. Na fase final, a sensibilidade da agricultora é que acrescenta o diferencial ao seu produto:
“A gente vai aprendendo com a experiência. O campista não gosta muito de farinha fina. Então tenho de ficar atenta à temperatura, ao tempo que vou misturar a farinha e isso vai do estilo de cada um. Eu fui aprimorando minha técnica para conseguir que a Farinha da Bahiana ficasse torradinha e com a textura que os campistas e as pessoas da região gostam”, contou a assentada que já conseguiu trocar a bulandeira manual por uma mecanizada e, agora, para aumentar a produção, quer investir em um lavador, que ainda não tem, e em uma prensa melhor, tudo isso enquanto aguarda a titularidade de sua unidade familiar em Zumbi dos Palmares.
Lígia da Farinha é parte de um público que a Secretaria de Agricultura, Pecuária e Pesca vem acompanhando para garantir o acesso à terra e ajudar a promover o protagonismo feminino na zona rural. A secretaria tem firmado parcerias e convênios com instituições como o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-RJ), a Fundação Instituto de Pesca do Estado do Rio de Janeiro (Fiperj), o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para disponibilizar meios e serviços para a regularização fundiária, assistência técnica, capacitação e financiamentos, entre outros serviços. Em março, Mês da Mulher, Lígia é exemplo de um expressivo e crescente grupo de mulheres que desenvolvem atividades essenciais para o desenvolvimento do agronegócio em Campos.
O secretário de Agricultura, Almy Júnior, diz que, em Campos e no país, não há efetivamente um percentual expressivo de mulheres no comando de atividades agrícolas, realidade que, no entanto, conforme ele destaca, vem sendo trabalhada e já está mudando, avançando de maneira consistente.
“Hoje temos uma mulher à frente do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e, em nossa região, nos cursos de agronomia, elas chegam a ser mais de 50% dos estudantes. Na área rural, temos uma presença feminina forte, com uma percentagem grande de mulheres ligadas à agricultura familiar, com a maioria ainda em atividades agrícolas desenvolvidas principalmente na área urbana. Em Campos, podemos destacar lideranças femininas em diversas associações de produtores. Mas a importância da atuação da mulher no campo já é reconhecida e, em nosso município, muito valorizada. Temos uma nova política agrícola em Campos, queremos fortalecer a zona rural, e promover o protagonismo feminino no agro é fundamental para termos êxito”, destaca o secretário, lembrando que a titularidade definitiva para assentados de Campos, como a que Lígia aguarda há décadas, está sendo agilizada pela Agricultura junto ao Incra.
Mulheres em campo - Este mês, em parceria com o Sindicato Rural de Campos, a Secretaria de Agricultura está desenvolvendo o Programa Mulheres em Campo, do Senar-RJ. São cursos em módulos, exclusivo para mulheres com o objetivo de promover o empreendedorismo. Os temas são Diagnóstico e empreendedorismo, Planejamento, Custo de produção, Indicadores de viabilidade e comercialização e Desenvolvimento pessoal. Nesta primeira etapa, o curso acontece na fazenda Taquara Preta, em Conselheiro Josino. A dona da propriedade, Viviane Gomes Ferreira, é uma das alunas.
“Criamos o programa Capacita Agro Campos (CapacitaAgro) e uma das parcerias foi com o Senar, que vai oferecer mais de 70 cursos de curta duração, entre eles o Mulheres em Campo, que será desenvolvido em outras localidades e regiões do município, visando justamente promover o empoderamento feminino na agricultura”, concluiu Almy Júnior.