Em parceria com o Instituto Oswaldo Cruz, Fiocruz, o Hemocentro Regional de Campos trouxe a Infectologista e Pesquisadora, Elba Lemos, para acompanhar as atividades de um estudo sobre agentes infecciosos zoonóticos. As zoonoses são doenças que atingem tanto o homem como outros animais. Geralmente o agente infeccioso salta do animal, por exemplo, o morcego, para o homem, mas lembrando que o ser humano também pode passar para o animal.
O objetivo do estudo é pesquisar patogenos que, geralmente, não são investigados, como os agentes virais transmitidos por roedores (ratos) e gatos como a bartonelose (doença da arranhadura do gato). No caso das viroses transmitidas pelos ratos, um destaque para a negligenciada arenavirose. Além da febre hemorrágica brasileira causada pelo arenavirus Sabia, uma das doenças humanas de elevada letalidade, temos também o arenavirus causador de meningite viral, o vírus da coriomeningite linfocitica (LCMV).
Estudos conduzidos em roedores em diversos municípios fluminenses foi possível identificar o LCMV em roedores apenas no município de Campos, o que levou a decisão de continuar os estudos a partir de um projeto de pesquisa de aluno de doutorado da Fiocruz, médico da Hemorio
A transmissão desses agentes virais para o homem ocorre por contato direto, por meio da inalação de aerossóis contendo partículas virais procedentes de urina, fezes, secreções de roedores infectados. Pessoas que tiveram contato com esses animais, mesmo sem saber, correm risco de infecção, podendo até evoluir para uma meningite viral. Pacientes com quadros de imunidade baixa, transplantados, soro positivos e gestantes podem apresentar quadros mais graves, incluindo, no caso das gestantes, comprometimento do bebê. O estudo que está sendo realizado visa investigar a prevalência sorológica de infecção pelo LCMV em indivíduos saudáveis doadores de sangue.
Quanto a bartonelose, é uma doença que pode variar de uma infecção leve a quadro grave como meningite, causada por bactérias que no paciente com anemia falciforme pode ser fatal. Por isso, a importância de seu estudo em doadores de sangue, pois a pesquisa de bartonela não se encontra incluída na lista de agentes infecciosos que são testados obrigatoriamente nos bancos de sangue pelo Ministério da Saúde como, por exemplo, HIV, sífilis, hepatites B e C. Este é o projeto de pesquisa da diretora técnica do Hemocentro Regional de Campos, Sandra Chalhoub.
De acordo com Elba, “a Fiocruz possui os testes para o diagnóstico das arenaviroses e bartoneloses. Os testes estão disponíveis para pesquisa e a vigilância, mesmo tendo custo alto”, disse.
Além do estudo sobre bartonelas e LCMV em doadores de sangue, a proposta é, também, comparar a prevalência dos agentes infecciosos causadores de sífilis aids e hepatites B e C investigados nos doadores de sangue entre dois hemocentros: o Hemocentro Regional de Campos e o Hemorio. Segundo a diretora do Hemocentro de Campos, para tal serão analisados os cadastros de doadores de sangue dos dois hemocentros durante o período de 2017 a 2022 - comparação exclusivamente de doadores dos municípios de Campos e do Rio de Janeiro
A infectologista Elba também comentou sobre outras zoonoses que são responsáveis por mais de 80% das doenças infecciosas emergentes descritas no mundo.
Dentre as diversas zoonoses a infectologista chamou a atenção para a raiva, lembrando o recente caso em um adolescente no Distrito Federal, associado a gato de rua. Ela ressaltou, neste caso, sobre a importância da vacinação.
“A raiva é uma doença para qual temos vacina e, assim, se ela está ocorrendo é porque está existindo falha. De fato, a cobertura vacinal nos animais domésticos tem caído aumentando o risco da raiva na população humana. Infelizmente é possível concluir que o movimento irresponsavelmente equivocado e danoso antivacina também chegou na veterinária”, comentou Elba que, recentemente, foi uma das coautoras do livro Vacinas, publicado pela editora Fiocruz.
Ela reforça que temos muitas doenças e que podemos e devemos eliminar a presença daquelas para as quais existe a vacina. Em relação a medidas preventivas básicas para reduzir ou impedir contato com animais infectados podemos listar
Evitar deixar alimentos expostos em bancadas indevidamente;
Não acumular lixo dentro e fora de casas e comércios que possam atrair ratos;
Manter ambientes limpos e higienizados sempre com armadilhas para exterminar roedores;
Manter os cães e gatos vacinados e sem carrapatos e pulgas
Lavar as mãos com frequência e higienizar os alimentos de forma adequada.
Por isso são importantes as campanhas do CCZ da cidade, a vacinação dos pets, permitindo que eles permaneçam saudáveis e diminuindo o risco de zoonoses, não somente na população humana, como também de outros animais. Por fim, a infectologista reforçou mais uma vez sobre a importância da vacinação que previne o contágio de um animal para o outro, além de proteger a população humana, não só de algumas zoonoses como a febre amarela e a raiva, mas também outras doenças exclusivas do homem, como sarampo, poliomielite, entre outras.