Profissionais de saúde vinculados à Atenção Básica, da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), participaram, nesta sexta-feira (25), de uma capacitação técnica que visa a aumentar a sensibilidade da vigilância da febre maculosa no município. A capacitação foi ministrada pela coordenadora do Laboratório de Hantaviroses e Rickettsioses do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Elba Lemos, com o objetivo de melhorar o acolhimento e atendimento de casos suspeitos e/ou confirmados da doença.
A febre maculosa é considerada uma doença de baixa incidência, porém de alta letalidade. Dos 52 casos notificados à Subsecretaria de Atenção Básica, Vigilância e Promoção da Saúde (Subpav), quatro casos tiveram resultados positivos para a doença. Todos os pacientes foram a óbito, sendo o mais recente uma criança de 7 anos, moradora de Coqueiro de Tócos, na Baixada Campista, registrado em 29 de outubro e a confirmação laboratorial em 24 de novembro.
“Foi um momento muito interessante porque vi o auditório repleto de pessoas curiosas, interessadas para que eu pudesse falar de um tema que sempre chamo de invisível. A febre maculosa é uma doença que muitos não conhecem, então essa avidez em querer saber sobre ela, até pelos casos que estão ocorrendo em Campos, me deu um conforto muito grande. Não é possível aceitar óbito por febre maculosa por ser uma doença que tem tratamento com antibiótico barato, não existe resistência, mas o paciente morre pela falta de conhecimento”, disse.
Segundo Elba, no início da década de 2010, ao olhar o mapa do Rio de Janeiro, via-se Itaperuna, Porciúncula e Natividade como áreas endêmicas, entretanto, agora, tem a inclusão de Campos. “Isso é porque a febre maculosa é mantida entre o carrapato e diferentes espécies de animais. No momento em que esses animais, seja o cavalo, o cachorro ou a capivara, se deslocam, eles vão transportando o carrapato que é o reservatório da bactéria e disseminando a doença para outras regiões e por isso são chamados de amplificadores. A febre maculosa não vai ser eliminada nunca, diferente do sarampo que tem vacina, porque a bactéria está nos animais. O homem é um acidente”, declarou.
Para Elba, o fator tempo é fundamental para que não tenha mais óbito. “A febre maculosa é uma doença que mata, mas é porque retarda o reconhecimento dela e porque não se trata no momento certo. Veja, a febre maculosa vai matar se a gente não iniciar o tratamento antes do quinto dia de doença. Depois do quinto dia a chance de o paciente não morrer reduz porque a bactéria destrói a parede dos vasos, todas as veias. Para diminuir a mortalidade é necessário procurar o médico e dizer que foi picado por carrapato”, observa.
Durante o encontro, além da orientação quanto à identificação da doença e acolhimento dos pacientes, profissionais puderam tirar dúvidas sobre os locais para onde os pacientes devem ser referenciados conforme fluxograma municipal para febre maculosa.
O subsecretário Rodrigo Carneiro observa que os casos de febre maculosa em Campos ocorriam de forma isolada, com intervalos de 3 a 4 anos, mas nos últimos anos têm sido anualmente e, por isso, a necessidade de capacitar os profissionais para identificação rápida dos casos suspeitos e, com isso, iniciar também o tratamento porque precocemente conseguimos salvar mais vidas.
“Nós já procedemos com treinamento de toda nossa rede de urgência e emergência, incluído os hospitais e UPHs, e agora estamos ampliando para as Unidades Básicas de Saúde”, disse, acrescentando que também estão sendo realizadas ações de prevenção, combate e de educação continuada nas localidades onde ocorreram as confirmações da doença e óbitos.
Além dos quatro casos confirmados, que evoluíram para óbitos - Três vendas, Ciprião, Novo Jockey, e Coqueiro de Tocos - há ainda 34 suspeitos e em investigação. Outros 14 foram descartados.
MULTIPLICADORES DE INFORMAÇÃO
Profissionais de saúde, como a enfermeira da Unidade Básica de Saúde da Família (UBSF) do Parque Aldeia, Keity Magalhães da Silva, consideraram o encontro produtivo. “Trouxe um start para quem trabalha nas unidades de saúde e não se atenta para a febre maculosa, que tem sintomas parecidos com os de outras doenças”, disse a enfermeira, ressaltando que, a partir de agora, passará a ter um olhar diferenciado para a febre maculosa, principalmente em relação ao diagnóstico.
Outra que pretende se tornar uma multiplicadora de informações, após a capacitação, é Glayce Paes, enfermeira da Unidade Básica de Saúde (UBS) de Campelo. “Como a unidade fica em uma área rural, precisamos redobrar nossa atenção, em especial no cuidado com os animais, que são hospedeiros do parasita”, afirmou.