Pela primeira vez, o país celebrou neste 19 de abril, o Dia dos Povos Indígenas e não mais o "Dia do Índio", como a data era conhecida até o ano passado. Isso, porque uma nova lei - de número 14.402 - aprovou a mudança da nomenclatura, que foi oficializada em julho de 2022. Em Campos, a rede municipal de ensino trabalhou a temática com os alunos da educação infantil, ensino fundamental e Educação de Jovens e Adultos (EJA).
As unidades escolares trabalharam o tema de diferentes formas, como, por exemplo, a Creche Escola José Eduardo dos Santos Peixoto Zandonaide, E. M. José das Chagas Pinto, Escola Branca Peçanha, Escola Manoel Coelho e Creche Martin Luther King. Foram muitas as manifestações culturais, apresentando os costumes dos povos originários, com apresentações musicais, teatro, danças típicas, distribuição de lembranças, rodas de conversa, etc. Teve até escola que se transformou em uma verdadeira tribo indígena.
Para o secretário municipal de Educação, Ciência e Tecnologia, Marcelo Feres, a data deve ser considerada como um motivo de reflexão sobre os valores culturais dos povos indígenas.
“Nossos estudantes precisam entender a importância da preservação e respeito desses valores. Preservar essa memória significa preservar a identidade cultural e a história de Campos, que começou com o índio Goitacá. Por isso, temos a necessidade de pensar de que modo os descendentes desses primeiros habitantes estão vivendo hoje, a fim de ajudar a preservar seus costumes e memória. A data foi criada em 1943, com o objetivo de desenvolver políticas públicas efetivas para a preservação da cultura indígena”, afirmou o secretário.
A diretora pedagógica da Seduct, Tania Alberto, acrescentou que a rede trabalha a temática de forma a eliminar o conceito ultrapassado de que o índio é selvagem. “Ele é o habitante legítimo da terra e todas as nossas escolas trabalham essa referência. Em uma de nossas apostilas, por exemplo, a temática é apresentada através de um encontro entre a turma do Sítio do Pica Pau Amarelo com os índios, que explicam a cultura deles, significados dos sons, roupas, etc”, comentou.
A coordenadora do Ensino Fundamental Anos Iniciais da Secretaria, Verônica Gomes, falou sobre o assunto. “Já ultrapassamos os tempos em que o 19 de abril em nossas escolas era dia de fantasiar nossos alunos. Hoje, refletimos e debatemos sobre as comunidades indígenas ainda existentes, suas culturas, dialetos, costumes e hábitos que herdamos e o quão importantes todos são na construção da história do nosso país, desde que os portugueses aqui chegaram. Mas hoje, esse 19 de abril tem um tom especial, porque foi um dia principalmente pra se exaltar o sentido maior da palavra respeito. Respeito ao outro, respeito a todos nós”, completou.
A orientadora pedagógica da Escola Municipal Professora Sebastiana Machado Silva, Ângela Fonseca, falou sobre como a unidade escolar trabalha a temática.
“Buscamos trabalhar nas escolas do nosso município com a nomenclatura de nações indígenas, termo mais abrangente no que se refere às inúmeras aldeias e comunidades indígenas presentes no país. Desenvolvemos em nossos alunos uma visão mais crítica sobre os indígenas da atualidade, desmistificando as ideias do século XV que só reafirmaram o caráter colonizador do homem branco. Apresentamos aos nossos alunos o indígena do século XXI que assiste TV, tem geladeira, utiliza Wi-Fi, celular. Enfim, transfiguramos a ideia acerca de nações inteiras que se encontram conectadas ao chamado mundo do homem branco. Nações que ainda continuam lutando pelo seu direito à terra, à participação política e a uma maior representatividade na nossa sociedade. Especificamente em Campos, evidenciamos a figura do guerreiro goitacá, primeiro a povoar nossa região e que serviu de inspiração para o nome de nossa cidade. Trabalhamos as nações indígenas conhecendo um pouco de sua cultura na alimentação, nas vestimentas, nas brincadeiras, mas, sobretudo, no reconhecimento da sua importância na formação do povo brasileiro. Precisamos pensar nos indígenas como nações com direitos soberanos sobre seu território e suas formas de organização social. Este é um dos grandes desafios a enfrentar e certamente que ele perpassa por uma Educação mais crítica, atualizada e reflexiva em nossas escolas”, detalhou Ângela.