Carolina contou que esse é só o começo. A ideia é que a obra ganhe o mundo sendo exibida através do YouTube, festivais e simpósios. Ela disse ainda que o projeto foi muito além de fazer um filme. O grupo meditou, cuidou do corpo, brincou bastante, pesquisou e exercitou a pedagogia antirracista e antissexista.
“É um filme para daqui a 20 anos. Imagina essas crianças vendo esse trabalho na fase adulta, reconhecendo como tiveram sua história valorizada, relembrando como foi importante brincar, meditar, alongar, refletir. elas criaram um documento histórico no qual foram as protagonistas. As crianças assumiram o protagonismo da construção do filme, desde pensar o roteiro até a montagem das cenas, ou seja, um filme por elas e com elas. A minha intenção foi estimular a criançada a valorizar a história de seus ancestrais e reconhecer seu território como um lugar de possibilidades de vida e trabalho. No campo é possível ser cineasta, roteirista, fotógrafo, engenheira, agricultor, pescadora, dentista. Para tanto, é preciso avançar com o projeto de Educação do Campo em todas as escolas”, ressaltou Carolina.
Coordenadora Multiprofissional da Seduct, Adriana Gonçalves falou sobre os sentimentos que a película desperta. “Foi maravilhoso ver o brilho nos olhos das crianças, a participação das famílias e o envolvimento de toda equipe da unidade escolar. São momentos assim que nos fortalecem para continuar lutando por uma educação pública de qualidade”, pontuou.
Força do campo
Articulador das Políticas de Educação do Campo da Secretaria, Marcelo Vianna falou sobre a potência que é a rede camponesa e suas táticas ancestrais na narrativa e desdobramento do filme da vida.
“Foi uma honra assistir ao filme com as crianças, comunidade, equipe técnica e a diretora, Carolina. Permeado pela força de seus saberes, a trama da rede, da pesca artesanal, do cultivo da terra, tudo isso conecta os segredos dos rios, da terra, do mistério da vida. Um filme sensível, feito por muitas ideias na contracorrente dos ensinos sem sentido, deslocados. “Do Outro Lado Do Rio” assinado pela Carolina revela pelo movimento das telas, belas imagens e um roteiro de tirar o fôlego da rica infância das crianças. É uma obra de arte, um presente para tantos munícipes, que encontraram saída do sistema de opressão e precariedade pela reforma agrária e o sustento na natureza. Quem também ganha essa obra é a Seduct, seus técnicos, professores que poderão se inspirar, pedagogicamente, em processos por uma educação emancipadora e cheia de sentidos na promoção da primazia da vida! Na educação do campo, a arte, o currículo, imitam a vida”, ressaltou Marcelo.
A gestora da Antônio Joaquim Codeço, Cristiane do Nascimento Barcelos disse que se encantou com a apresentação da película. “Fiquei emocionada em várias cenas. Lembrei das histórias que minha mãe passou a vida me contando. Nascemos e fomos criadas aqui. Foi incrível, incrível. Vocês estão de parabéns”, disse Cristiane.
Editor de imagens do setor de Multimídias da Seduct, Daniel Nescher salientou a importância da obra. “Acho muito importante esse projeto. Ele dá esperança para essas crianças, na medida que torna realidade uma ideia deles. Me sinto muito gratificado de ter participado de um pedacinho do sonho deles”, explicou.
A arte como brincadeira — Os alunos também adoraram a novidade. “Eu gostei do projeto. Brincamos, tomamos banho de rio e aprendemos a contar uma história. Descobri muita coisa. Foi bom entrevistar minha avó e descobrir como faz o cantão, uma comida que veio dos indígenas e negros, que é da nossa região”, relatou Rayssa de Souza Gomes.
“Foi bom. Eu criei a cena de colocar o bilhete na garrafa e jogar no rio para falar com nosso colega que mora do outro lado do rio. Aprendi bastante coisa”, contou Eloá Tavares Ribeiro.
A diversão foi outra marca registrada: “Adorei. Gostei de subir em árvores. O mundo fica diferente. Gostei também de pescar. A gente foi fazendo o filme sem saber que estava fazendo. A pescaria, o almoço, o piquenique foi virando filme. Foi divertido”, disse Aryel Theylon Jesus Trindade.
E quem saiu de casa para assistir ao “Do Outro Lado do Rio” como espectador também não se decepcionou. Foi o caso da Jéssica da Silva, mãe do aluno Victor Hugo. “Chorei muito, fiquei emocionada. Meu filho é muito vergonhoso e não quis vir, mas eu vim com a família. Quero guardar esse filme pra vida toda. Muito bom ver meu filho participando da história. Nunca imaginei”, falou Jéssica.
Morador do local, Carlos da Silva Nascimento também se emocionou. “Continuem fazendo, ficou muito bom. Agora nossa história está registrada para vida toda”, concluiu Carlos.