Com o auditório da Prefeitura cheio, a aula inaugural do Curso de Aperfeiçoamento em Educação Escolar Quilombola: perspectivas antirracistas e práticas emancipatórias em territórios da Região dos Lagos e Norte Fluminense do Estado do Rio de Janeiro, ciclo 2025, foi realizada nesta quarta-feira (12). O evento foi aberto pela subsecretária de Educação, Rita Abreu, que representou o secretário de Educação, Ciência e Tecnologia, Marcelo Feres.
Rita pontuou a importância da Escola Quilombo no crescimento pessoal e pedagógico dos alunos. "Agradeço esse pontapé inicial que estamos dando hoje, em uma parceria que veio para ficar e dar certo. A gente sabe de todas as nossas histórias e tudo que necessita ser resgatado da nossa cultura. Temos uma dívida que vai além de uma dívida cultural, mas uma dívida de Justiça. E é nas escolas municipais que pretendemos fazer com que a valorização das nossas unidades, dos nossos territórios, seja discutida e debatida", disse.
A representante da coordenação do Curso de Aperfeiçoamento em Educação Escolar Quilombola, da Universidade Federal Fluminense (UFF), Jéssica Oliveira, fez um panorama do curso, mostrando os objetivos, a equipe responsável pela Escola Quilombo, vagas disponíveis, oficinas e vivências, materiais pedagógicos, entre outros temas.
“Essa formação é uma importante parceria entre a Universidade Federal Fluminense (UFF), que conduz a coordenação desse projeto, e conta com imensas outras parcerias, por meio de financiamento de uma estrutura conhecida pelo Ministério da Educação, especialmente pela Cecad e a coordenação escolar quilombola, que acompanha essa secretaria. Esse projeto chega pra gente por meio do trabalho da professora Maria Clareth Gonçalves Reis, que há alguns anos compôs uma equipe do MEC, na Cecad, e começou uma verdadeira retomada da educação escolar quilombola, que nos anos anteriores foi tão massacrada e negligenciada. No segmento desse contexto, foram dez projetos durante todo o país, e esse é um desses projetos de curso de aperfeiçoamento, no sentido de diretrizes nacionais de educação escolar quilombola no Estado do Rio de Janeiro”, comentou.
Segundo ela, o ciclo anterior foi realizado no ano passado, alcançando os municípios de Quissamã, Cabo Frio e Búzios. “E esse ano, esse projeto se renova. Então, contamos com o apoio do MEC para um novo ciclo, e o objetivo é que ele se expanda. Esse é um projeto que tem o objetivo de impulsionar a implementação dessas diretrizes e entendendo- a como uma modalidade de educação", explicou Jéssica.
A diretora pedagógica da Seduct, Viviane Terra, destacou a importância da Educação e afirmou que a Diretoria Pedagógica tem o papel de repensar o currículo. “O nosso articulador pedagógico da Educação do Campo, Marcelo Vianna, tem sido uma pessoa que tem assumido a centralidade desse processo com brilhante competência de pensar essas comunidades e esse currículo, de modo que isso chegue nas escolas e alcance de fato a sala de aula e os alunos, que são, absolutamente, a nossa prioridade. Então, a Diretoria Pedagógica se alegra muito com essa parceria, com essa aproximação da universidade com as secretarias de educação, com as comunidades. Pensar esse curso e agir diretamente na comunidade, faz toda a diferença”, esclareceu Viviane.
Marcelo Vianna abriu sua fala com o trecho de um jongo da década de 70, que mostra a trajetória de como o negro foi tratado no Brasil: "Mesmo usados, moídos, pilados, vendidos e trocados, estamos de pé". "Não seria diferente nesse momento, em 2025, a gente fazer esse debate, com esse desafio da Escola Quilombo e esse apagamento de tudo que a gente construiu e vem construindo ao longo da história da humanidade. A modalidade de educação escolar indígena, ou a modalidade de educação escolar quilombola, são resistências que permanecem de pé. Quanto sangue derramado, quantas atrocidades, quantas pessoas aprisionadas, quantas escolas, prisões, quanta forma e conteúdo retirado do nosso povo”, declarou Marcelo.
Representando a reitora da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Rosana Rodrigues, o pró-reitor de assuntos comunitários, Milton Kanahiro, falou sobre a necessidade do processo de inclusão das comunidades quilombolas, no processo do ensino superior. "O percentual, por exemplo, de alunos quilombolas, indígenas que a gente tem na Uenf, é muito pequeno comparado com a representatividade dessa comunidade na população Norte, Noroeste, da comunidade, especialmente de Campos. E nesse processo, a gente foi percebendo também que há uma necessidade também não só de trazer essa comunidade para a universidade, mas existe uma demanda local que é um pouco diferente da que a gente imagina. Há uma demanda da necessidade da preservação da cultura, dos costumes e também da comunidade local que não têm a possibilidade de ir para a universidade. Isso envolve preservação da cultura, das tradições, dos costumes, que acaba se perdendo também. Então, é um processo muito maior daquilo que a gente tinha imaginado, de resgatar. Queremos nossas universidades repletas de alunos quilombolas, indígenas e, por isso, estamos nessa luta", comentou Milton.
O público-alvo do curso são gestores e gestoras das escolas quilombolas e das unidades que recebem estudantes quilombolas; professores de escolas de Comunidades Quilombolas da Região Norte Fluminense do Estado do Rio de Janeiro e da Costa Verde; além de gestores vinculados às Secretarias de Educação dos municípios envolvidos e Lideranças quilombolas das regiões. A carga horária é de 180 horas, distribuídas em aulas presenciais, tempo comunidade (oficinas e vivências).
A formação vai ocorrer de fevereiro a julho deste ano, na Escola Municipal Maria Antônia Pessanha Trindade, em Quilombo, Dores de Macabu. Gestora da unidade, Sônia Maria Sardinha contou que a escola atende 220 alunos, oriundos de localidades como Guriri, Ponta da Lama, Veiga e Ibitioca. Para ela a formação vai ser essencial para o ensino-aprendizagem dos alunos.
"É muito importante para a vivência deles saberem quem são e de onde vieram. A escola funciona em um antigo Quilombo e esse resgate de memória é muito importante. Já fazemos um trabalho com a comunidade e a expectativa é grande para esse início. Estamos de portas abertas para acolher a todos.
Participaram ainda do evento: a presidente da Associação Quilombola de Lagoa Feia e Sossego, Maria de Lourdes Cruz do Nascimento Magno; a professora do curso de licenciatura em pedagogia e coordenadora do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas da Uenf, Maria Clareth Gonçalves Reis; e a chefe do Laboratório de Estudos da Educação e Linguagem do CCH e coordenadora institucional do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à docência (PIBID), Eliana Crispim F. Luquetti.