A Secretaria Municipal de Educação, Ciência e Tecnologia (Seduct) está dando continuidade ao Curso de Aperfeiçoamento em Educação Escolar Quilombola: perspectivas antirracistas e práticas emancipatórias. A primeira formação vai acontecer na Escola Municipal Maria Antônia Pessanha Trindade, em Quilombo, Dores de Macabu, no dia 27 de março. Trata-se do primeiro módulo - Corpo-território: da ação à cartografia quilombola - que vai contar com a palestra do articulador pedagógico das políticas da Educação do Campo da Seduct, Marcelo Vianna.
Ele vai falar sobre o tema Disputas afrobrasileiras e territorialidades, em dois horários, 8h às 12h e 13h às 17h. No mesmo dia, haverá, ainda, oficina sobre as territorialidades quilombola e outras atividades como Cartografia Temática, com participação de representantes quilombolas.
“Cerca de 50 pessoas, entre profissionais e pessoas da comunidade escolar, vão participar do Curso, que tem duração de seis meses, com 180 horas no total. A aula inaugural aconteceu no dia 12 de fevereiro, no auditório da Prefeitura de Campos, com a presença de diversas autoridades no assunto”, disse Marcelo.
O módulo 2 abordará o tema Educação Escolar Quilombola: garantia de direitos e preservação da memória, no dia 24 de abril. A aula vai falar sobre diretrizes, política e legitimidade, e contará com ministração da professora Maria Clareth Gonçalves Reis, também em dois horários, 8h e 13h, na mesma unidade escolar. A oficina Pelas trilhas do Quilombo Lagoa Feia e a Vivência Sistematização em diferentes linguagens também vão integrar a programação do segundo módulo.
O módulo 3 - Saberes ancestrais e diversidade cultural – terá aula sobre Práticas pedagógicas e saberes quilombolas com a professora Gizelya Morais (PPGPS/UENF), no dia 22 de maio, além de oficina de Contação de causos do quilombo e Caderno de Receitas Quilombolas com alimentos da região.
Já o módulo 4 - Mulheres quilombolas: saberes educativos e direitos à cidadania – vai oferecer aula com a professora Viviane Ramiro no dia 26 de junho, além de outras atividades. Uma culminância com exposição das ações realizadas ao longo do ano está prevista para o dia 3 de julho, com atividades, filmes, produções textuais, atividades artísticas e culturais.
Para Juliana Pacheco de Oliveira, doutoranda em Educação, mestre em Ensino de História, dinamizadora de Educação Escolar Quilombola na rede municipal de ensino de Cabo Frio e coordenadora de Educação Escolar Quilombola e Antirracista da Prefeitura de São Pedro da Aldeia, a Educação Escolar Quilombola é uma modalidade extremamente importante, que busca atrelar os conhecimentos tradicionais das comunidades, os saberes tradicionais, com o conhecimento formal, o currículo prescrito.
“Muitas comunidades quilombolas têm uma grande dificuldade no seu reconhecimento identitário e a gente pode atrelar isso à questão do nosso processo histórico; pessoas que foram marginalizadas e invisibilizadas, além de todo o processo de enbranquecimento que nós temos na história do Brasil. Isso fez com que criassem estereótipos em relação ao povo negro e ao povo quilombola. São muitos estereótipos. O povo quilombola muitas vezes é visto de forma folclorizada. Então, essa formação capacita professores que, em muitas escolas quilombolas, não são quilombolas, a poder conhecer, entender a história e a cultura dessas comunidades e poder tratá-los de acordo com a sua identidade. Porque cada comunidade tem a sua identidade, a sua memória coletiva”, destacou.
Segundo ela, não se pode tratar os quilombos de forma homogênea. “A capacitação é fundamental para trazer reflexões, diálogos, para construir essa educação que respeite a identidade de cada comunidade, que ocorre de forma interdisciplinar. É muito importante que essa modalidade de ensino não seja tratada como um projeto, é uma modalidade, então é muito importante que as escolas tenham uma proposta curricular diferenciada, que adequem a alimentação escolar às especificidades de cada comunidade, que se tenha um trabalho de formação continuada, mas também de preparação de material pedagógico para essas escolas. Essa modalidade demanda de muitas ações em diferentes aspectos, e, principalmente, na sua institucionalização, porque precisamos criar as políticas educacionais que vão garantir a continuidade dessas políticas, dessa modalidade, dessas ações”, acrescentou Juliana.
Segundo Marcelo, a Educação Escolar Quilombola está em fase de implantação em Campos. O primeiro passo já está sendo dado, com diversas formações. “Essas políticas de educação diferenciada são frutos de reivindicações históricas de grupos invisibilizados e subalternizados", informou.
De acordo com o articulador da política de Educação para a Diversidade e Educação Quilombola da Seduct, Diego Santos, o objetivo é valorizar e potenciar as vivências e tradições das comunidades e fortalecer o modo próprio de produção e processos de trabalho no sentido de seu próprio etnodesenvolvimento.
“Queremos que os estudantes possam valorizar suas próprias histórias e culturas, que tenham orgulho de serem eles mesmos apesar do mundo fazer-lhes força contrária. Por isso, é importante que os profissionais que atuam na Política Educacional Diferenciada sejam, principalmente, pessoas da própria comunidade ou inteiramente envolvidas e posicionadas com ela. As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola na Educação Básica definem uma pedagogia própria em respeito à especificidade étnico-racial e cultural de cada comunidade, formação específica de seu quadro docente, materiais didáticos e paradidáticos específicos”, finalizou Diego.