A Prefeitura de Campos, por meio da Secretaria Municipal de Saúde, realizou na noite desta terça-feira (25) o 1º Seminário Municipal de Saúde da População Negra, Povos e Comunidades Tradicionais, encontro voltado ao fortalecimento da política de equidade racial no Sistema Único de Saúde (SUS) e à valorização dos saberes e territórios tradicionais. O evento aconteceu no novo polo da Universidade Federal Fluminense (UFF) e reuniu profissionais da saúde, pesquisadores, lideranças comunitárias, gestores, movimentos sociais e membros da sociedade civil.
O seminário foi promovido pela Subsecretaria de Atenção Primária à Saúde (APS), pelo Programa de Assistência aos Assentados e Quilombolas (PAAQ), pela Subsecretaria de Igualdade Racial e Direitos Humanos e pelo Comitê Técnico de Saúde Integral da População Negra, Povos e Comunidades Tradicionais, em parceria com a Agenda Antirracista da UFF Campos, e o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas da Faculdade de Medicina de Campos (FMC). O evento marcou um passo importante na consolidação da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra no município, com mesas de debate, apresentações de dados, reflexões acadêmicas e a construção coletiva de propostas que serão incorporadas ao plano de ação da Secretaria Municipal de Saúde.
A subsecretária de Atenção Primária, Ana Carolina Xavier, destacou que o seminário representa um movimento concreto de enfrentamento às desigualdades raciais no SUS e na formação dos profissionais de saúde. Segundo ela, o encontro provoca uma reflexão necessária dentro das instituições.
“Hoje é um ato revolucionário para mudanças políticas concretas em nossa cidade. Quando falamos de SUS, falamos também do papel dos profissionais de saúde na reprodução do racismo e da branquitude. Estar aqui como médica e representante da gestão reforça a necessidade de compromissos que vão além do que aprendemos nas universidades. Precisamos de práticas antirracistas e de uma visão de saúde pública que entenda a equidade”, afirmou a subsecretária.
Durante o evento, o subsecretário de Igualdade Racial e Direitos Humanos, Gilberto Totinho, ressaltou que a construção de políticas públicas efetivas depende do trabalho conjunto entre Universidade, Movimentos Sociais e Poder Público. Segundo ele, a criação e implementação do Comitê Técnico de Saúde Integral da População Negra são fruto de um processo iniciado há anos, com encontros, articulações e escuta ativa das comunidades.
“O seminário simboliza o amadurecimento desse percurso e evidencia a importância de enfrentar o racismo em todas as suas manifestações, seja o racismo científico, obstétrico ou estrutural. O comitê terá papel essencial no apoio às secretarias e conselhos municipais, oferecendo informações técnicas e orientações que qualifiquem a elaboração de políticas públicas voltadas às especificidades da população negra e dos povos tradicionais, que representam mais de 54% do município. O fortalecimento dessa agenda significa garantir cuidado adequado, considerando doenças e vulnerabilidades que incidem de forma desigual sobre essas populações”, destacou Totinho.
A coordenadora do Comitê de Saúde Integral da População Negra, Célida Luna Mendivil, destacou que o grupo já apresentou um plano de ação à Subsecretaria de Atenção Primária e aguarda sua efetivação. Segundo ela, os dados apresentados durante o seminário devem estimular avanços concretos.
“Esperamos que nosso plano se torne realidade. Os dados que mostramos hoje precisam fazer com que as autoridades entendam a urgência da política de equidade. Com a ampliação das equipes de Estratégia Saúde da Família, temos a oportunidade de melhorar a atenção básica e fortalecer esse cuidado”, afirmou.
A coordenadora do Programa de Assistência aos Assentados e Quilombolas (PAAQ), Esthefany Francisco, destacou a atuação do programa no município e sua relação direta com a Política Nacional da População do Campo, das Águas e das Florestas. Ela explicou que o PAAQ fortalece vínculos e amplia o acesso à saúde nos territórios tradicionais.
“O programa surge para preservar saberes e proteger territórios. Ao levar saúde para esses espaços e aproximar a gestão das comunidades, contribuímos para o plano de equidade do município e damos visibilidade a essas populações de forma plena e integral”, afirmou.
O diretor da Faculdade de Medicina de Campos (FMC), Edilberth Pellegrini, apresentou a criação recente do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (NEABI) da instituição, iniciativa que nasceu de discussões internas e da percepção das desigualdades raciais no atendimento à população. Ele explicou que o núcleo surgiu como resposta à necessidade de aprofundar debates e pesquisas sobre racismo no contexto da saúde.
“Percebi que, mesmo dentro da assistência, ainda existe discriminação racial, o que é absurdo e intolerável. Criamos o NEABI para promover interlocução com nossa comunidade acadêmica e com a sociedade, trazendo para a FMC o debate sobre racismo, inclusive no campo da saúde, além de fomentar pesquisas e projetos de extensão sobre o tema”, disse Edilberth.