A solidariedade partindo de quem há pouco mais de um ano enfrentava dificuldades para colocar a comida na mesa. Assim pode ser traduzido o gesto de pescadores que sofriam para sustentar suas famílias durante o defeso de água doce, e que agora fazem doação de parte dos alimentos que cultivam em uma ilha, a três instituições de diferentes segmentos em Campos.
Nesta quinta-feira (4), o superintendente municipal de Pesca e Aquicultura, José Roberto Pessanha, o Betinho, e o adjunto, José Armando Barreto, visitaram a Ilha dos Pescadores, no Rio Paraíba do Sul, na altura do Parque Prazeres, onde pescadores viraram agricultores para garantir o sustento em um período de dificuldades.
— Eles estão doando centenas de espigas de milho verde e algumas abóboras para a APOE (Associação de Proteção e Orientação aos Excepcionais), para crianças carentes da ONG Orquestrando a Vida, e para a Escola Municipal João Borges Barreto, na Tapera. Um lindo gesto para quem, há tão pouco tempo, enfrentava problemas com a segurança alimentar — observa José Armando Barreto. “Onde tem fartura não há fome. Como diz a Bíblia: ‘o homem tem que viver de seu suor. E se sobra um pouco, por que não doar ao próximo?’”, completa a pescadora/agricultora Maria da Penha Alves, 54.
São, ao todo, 14 famílias de pescadores de muitas que em 2015 não conseguiram acesso ao dinheiro do seguro defeso. E que em outubro do mesmo ano começaram a plantar em parte da Ilha dos Pescadores já pensando no período do defeso no início de 2016, quando ficariam mais três meses sem poder pescar.
— Começamos plantando abóbora. Depois acrescentamos o milho, e agora plantamos também aipim, quiabo, maxixe e muitas outras coisas. E no início deste ano, a superintendência de Agricultura doou à nossa associação mais de 140 mudas de frutíferas, como figo, acerola, graviola, mamão, entre outras, que já estão começando a produzir — afirmou Emilton Basílio de Souza, o Pico, diretor da Associação de Pescadores Artesanais do Parque Prazeres e Rio Paraíba do Sul (Apappriops).
Como fazem no dia a dia de trabalho, algumas famílias se uniram para a colheita dos produtos a serem doados. “Aqui a gente trabalha sempre em mutirão. Quando é para fazer a limpeza ou plantio na roça de um, todos ajudam e fazemos o serviço em um só dia. Depois passamos para a roça de outro”, explicou o presidente da associação, Valdemir Alves, o Demi.
Por enquanto os pescadores agricultores ocupam cerca de oito hectares de cerca de 24 agricultáveis em toda a ilha. Outra parte é reservada para a preservação de uma extensa área de mata nativa, com mais de dois quilômetros de extensão. “Eles só precisam de apoio. O restante é disposição para o trabalho, e isso não lhes falta”, completou Betinho.