Aproximadamente 65% dos casos de abuso sexual têm origem intra-familiar, e 18% das vítimas são agredidas por pessoas estranhas. Os dados, apontados em estudos, foram apresentados durante o V Seminário "Campos no Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes", nesta quinta-feira (18), na Câmara de Vereadores de Campos. O evento, promovido pelo programa FortaleSER da Fundação Municipal da Infância e da Juventude (FMIJ), lotou o plenário da Casa Legislativa.
A vice-prefeita, Conceição SantAnna, participou do Seminário representando o prefeito Rafael Diniz, que cumpria agenda fora da cidade. Na abertura do evento, a mãe de uma das vítimas assistidas pelo FortaleSER - que também foi vítima de abuso sexual na infância - compartilhou um pouco de sua história e incentivou a sociedade a se encorajar e denunciar crimes de abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes. Ela revelou que a filha foi violentada pelo próprio pai, quando tinha apenas seis anos.
"Quando a minha filha sofreu a violência sexual, o primeiro lugar que procurei foi o FortaleSER, onde fui acolhida, ouvida e tratada com muito respeito. É natural que tenhamos medo de denunciar. Mas foi a denúncia que salvou as nossas vidas. Hoje posso dizer que minha filha se libertou do peso que carregava", contou.
A vice-prefeita criticou o fato de as vítimas ainda serem apontadas como responsáveis pela prática dos crimes. "Não nos importa o que ouvimos durante a caminhada, na última segunda-feira (15), quando algumas pessoas, em sua maioria homens, tentaram jogar a culpa da prática dos crimes nas mulheres e nas crianças. Isso não é verdade. É puro preconceito e falta de conscientização. Que possamos juntos mudar esta realidade, principalmente em Campos", cobrou Conceição.
Já a presidente da FMIJ, Suellen André de Souza, esclareceu que o dia 18 de maio não é uma data comemorativa. "Nosso Seminário, que está em sua quinta edição, é um marco do município no enfrentamento a estes crimes. Trabalhamos para ofertar o melhor atendimento a este público, que tanto precisa da nossa atenção. Estamos focados em quebrar barreiras e preconceitos que ainda existem em torno desta temática. Há muito trabalho a se fazer ainda, mas também há muito sendo feito", frisou.
A promotora da Promotoria de Tutela Coletiva da Infância e da Juventude de Campos, Anik Assed, abordou o tema "O papel do Ministério Público no enfrentamento à violência sexual de crianças e adolescentes". Durante a palestra, ela criticou a ineficiência da rede de proteção em todo o país, mas elogiou o trabalho específico realizado em Campos. "Contamos com o Disque 100, que é um canal de denúncia, mas o que acontece depois da informação colhida ainda é muito precário. Em Campos, o FortaleSER desempenha um trabalho exemplar. São verdadeiros heróis", pontuou.
O pediatra e perito legista da Secretaria de Estado de Segurança Pública, Carlos Alberto Simões, mostrou que abuso sexual é crime e deixa marcas para a vida toda, como o medo de defrontar com pessoas do mesmo sexo, pânico e depressão. "No geral, o lugar mais seguro para uma criança é o lar. Não no caso do abuso sexual. Entre cada oito crianças brasileiras, quatro meninas e um menino são vítimas de abuso sexual. Quando não é interrompido, o abusador chega a fazer até 100 vítimas ao longo de sua vida", revelou o especialista.
A pediatra infectologista do Centro de Doenças Infecciosas e Parasitárias (Cedip), Bruna Bragança, apontou que 16% a 58% das vítimas de violência sexual adquirem pelo menos um tipo de Doença Sexualmente Transmissível (DST).
Emoção — O Coro da FMIJ se apresentou na abertura do Seminário levando canções com mensagens de paz para os presentes. A apresentação, resultado do trabalho realizado no Serviço de Fortalecimento de Vínculos (SFCV) Semeando Arte, foi elogiado pela promotora, pelo legista, pela vice-prefeita, pelo presidente da Câmara e pelo público.