O convívio familiar é um dos fatores determinantes para o tratamento de um paciente psiquiátrico e, com base nisso, o serviço de desinstitucionalização do Programa de Saúde Mental, da secretaria de Saúde de Campos, tem atuado para resgatar ou aprimorar esse elo e devolver ao convívio social aqueles que ficam anos em um hospital psiquiátrico, muitas vezes por não ter um familiar por perto que possa zelar por ele. Recentemente, dois pacientes que estavam internados há mais de dois anos puderam reencontrar suas famílias, que são de outros estados, através do trabalho de desinstitucionalização.
De acordo com a coordenadora da equipe, Enara Vieira, Carlos Alberto Souza de Oliveira — internado há mais de dois anos no Hospital Henrique Roxo, em Campos — é de Porto Seguro, na Bahia.
— Ele só conseguia falar Vera Cruz e Porto Seguro. Em pesquisas feitas pela equipe conseguimos entender que Vera Cruz é um distrito de Porto Seguro, e a partir daí, além de termos feito contato com a Saúde Mental da cidade, procuramos o Programa de Saúde da Família e a Atenção Básica de lá e aos poucos fomos obtendo informações mais precisas sobre a sua família. Em fevereiro deste ano conseguimos localizar os parentes, que achavam até que ele já tivesse falecido. Ficamos em contato com eles até abril, quando foi possível que viessem buscá-lo — disse Enara Vieira.
No segundo caso, Aldair José Pereira é de Cariacica, no Espírito Santo, e estava internado no Hospital Abrigo Doutor João Viana desde dezembro de 2013. "Foi um pouco mais fácil conseguir algumas informações porque ele sempre falava de Cariacica e lembrava de um nome diferente. Com o tempo descobrimos que era o nome da rua que mora. Seguimos os mesmos processos que fizemos no caso de Porto Seguro. Entramos em contato com a Saúde Mental da cidade e com o PSF e conseguimos localizar o tio do rapaz. Entramos em contanto em um dia e depois de uns dois a três dias, a família já veio buscá-lo. Ele teve alta no dia 13 de maio", conta a coordenadora da equipe serviço de desinstitucionalização.
Enara ressalta ainda que em ambos os casos, os pacientes tinham destinos diferentes, mas por algum motivo ficaram em Campos. "O de Porto Seguro queria chegar em Niterói, já o de Cariacica queria ir para Macaé", relatou. Ela também informou que de janeiro deste ano até o meado de maio, oito pacientes também já voltaram para suas casas, muitos deles de Campos mesmo.
A coordenadora destacou também que, em média, 50 pessoas estão internadas há mais de 1 ano em hospitais psiquiátricos de Campos, deste total 14 são residentes de outros municípios. "É preciso entender que o hospital psiquiátrico deveria ser para internações pontuais, em casos de reais necessidades. É nesse sentido que atuamos para tentar resgatar o vínculo do paciente com sua família ou responsável legal para que ele possa voltar ao seu lar e não ter que viver em um ambiente hospitalar", explicou ao acrescentar que a equipe de desinstitucionalização tem atuado no caso de um paciente de Salvador que está internado em Campos há sete anos. "Esperamos ter um bom resultado com esse paciente também", afirmou.