Olhares muitas vezes fixos e distantes, risos soltos ou rostos sisudos, imaginários que não seguem lógicas comuns e vidas marcadas por duros rótulos e preconceitos sociais. As caminhadas são, na maioria das vezes, muito duras, a solidão se torna companheira constante e os delírios frequentes. Quem denomina como loucura deve chamar de diferença e é pelo respeito a esta diferença que os Centros de Atenção Psicossociais (Caps) de Campos lutam diariamente.
Atualmente, o município conta com 4 Caps — sendo um infantil — em que as equipes trabalham com a metodologia de reinserção do paciente à sociedade, ao convívio com os amigos e com a família. Cerca de 150 pessoas são atendidas diariamente nos Centros. A ideia da internação do paciente com transtorno mental tem se tornado coisa do passado e dado lugar merecido a tratamentos onde o respeito, o carinho e o estímulo pela independência são prioridades. O resultado tem sido positivo e a cada dia menos internações são registradas no município.
De acordo com a coordenadora do Programa de Saúde Mental da secretaria municipal de Saúde, Elisa Peralva, a aprovação em 2001 da lei 10.216, conhecida como Lei da Reforma Psiquiátrica, instituiu os Caps como serviços que substituem a internação.
— Essa não é uma mudança apenas de lugar de tratamento, mas principalmente de lógica no tratamento. Com o movimento da reforma os conceitos começaram a mudar. Antes se entendia que a pessoa com transtorno mental não podia gerir a própria vida e atualmente, após muito estudo e acompanhamento vemos que essas pessoas podem sim, ter uma vida social com acompanhamento de profissionais. Este é o trabalho que desenvolvemos no Caps — ressaltou.
Para a reintegração do paciente à sociedade, as equipes multidisciplinares dos Caps trabalham, além do acompanhamento médico e psicológico, com oficinas de artesanato, música, oficinas de geração de renda como brechós e principalmente com o acolhimento por meio da conversa constante e do carinho e cuidado com a pessoa levando em consideração cada caso. O acompanhamento da família também é importante.
Beth Silva é atendida pelo Caps 3 Romeu Casarsa e também é a responsável pelo Brechó que gera renda para os pacientes e também para o espaço. “Me sinto outra pessoa podendo trabalhar, conversar com meus amigos, tomar conta deste espaço que eu tanto gosto. Mostro que sou capaz. Tem dias que consigo vender tanto que saio daqui ainda mais feliz ”, disse.
Diante do trabalho desenvolvido nos Centros de Atenção Psicossociais o número de internações de pacientes com transtornos mentais tem diminuído. Em junho, o programa de Saúde Mental registrou uma queda de 40 para apenas 12 internações. E os números são cada vez menores.
— Com a equipe implantando uma nova lógica de trabalho e uma maior articulação da rede de cuidados, priorizando outros valores, dando maior assistência e ouvindo mais os pacientes, a necessidade de internação em casos de crise se tornou a última alternativa, fazendo com que o cuidado no centro de atenção psicossocial fosse mais potencializado. Todos nós precisamos aprender a lidar com as diferenças — concluiu Peralva.
Atualmente, cerca de 150 pacientes são atendidos diariamente pelos Caps no município. Um Caps está localizado em Guarus, na Rua André Luiz, 54, Jardim Carioca; outro na Rua Baltazar Carneiro, 90, próximo à Faculdade de Medicina de Campos (FMC) e dois na Rua José do Patrocínio, Centro, próximos à Universidade Federal Fluminense (UFF).