Janela para a história documental de Campos, o Arquivo Público Municipal Waldir Pinto de Carvalho iniciou, nesta terça-feira, a comemoração pelos seus 17 anos. Com o histórico prédio do Solar do Colégio dos Jesuítas como sede, a viagem no tempo foi reafirmada pelos participantes que prestigiaram a mesa “O Monitor Campista: Testemunho da História”, que precedeu a abertura da exposição de mesmo tema, que seguirá aberta ao público. A programação de aniversário continua até o dia cinco de junho com seminário e exposições.
— São 17 anos de um trabalho que muito nos alegra, apesar das dificuldades. No ano passado, o Arquivo Público teve uma grande visitação, triplicada em relação ao anterior. Tivemos um projeto importantíssimo em parceria com a secretaria de Educação que foi o “O Arquivo vai à Escola” e será retomado. Os jesuítas nos deixaram uma lição sábia, que é ter nas crianças um meio de disseminação de informações porque quando mostramos a elas todo o aparato cultural de nossa região, nós fazemos com que esta cultura sobreviva por mais uma geração — ressaltou o gerente do Arquivo Público, desde a criação do espaço, Carlos Freitas.
Fundado em 18 de maio de 2001, o Arquivo é fonte de informação para pesquisadores, universitários e para o público em geral por preservar a memória documental da cidade. O evento comemorativo desta terça-feira foi oportunidade para ampliar o acervo ao receber oficialmente o material particular do escritor e memorialista Waldir Pinto de Carvalho, que dá nome à instituição. Suas filhas Zedir e Zalnir de Carvalho assinaram o termo de doação do material que dará corpo a uma exposição permanente no local. Para celebrar os 17 anos, a mesa de abertura contou Carlos Freitas; com o diretor do Departamento de Turismo, Hans Muylaert e o vice-presidente da Companhia de Desenvolvimento do Município de Campos (Codemca), Marcel Cardoso; assim como a presidente da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima (FCJOL), Cristina Lima.
— É uma grande satisfação estar presente no 17º aniversário desta instituição. Mais um ano se passou e continuamos firmes em nossa luta. Seguimos em frente, apesar das dificuldades, porque temos uma equipe empenhadíssima. Tudo que vocês veem aqui é fruto de um trabalho muito competente, muito dedicado desta equipe liderada por Carlos Freitas, que merece ser parabenizada — comentou Cristina Lima.
A programação continuou com debate sobre o jornal “Monitor Campista”. Participaram da mesa, os pesquisadores Eugênio Soares e Rodrigo Rosselini, além do jornalista e ex-funcionário do jornal Hélvio Cordeiro. Mediou o debate o professor universitário e presidente da Associação de Imprensa Campista (AIC), Vitor Menezes. Com acervo mantido pelo Arquivo, o periódico, que circulou de 1834 a 2009, tem em suas páginas registros desde a venda de escravos, cartas de representantes da nobreza agrária em posicionamento contra a Lei do Ventre Livre e a abolição da escravatura.
— O Monitor Campista é um documento que nos possibilita construir uma narrativa sobre o passado. No período em que eu estou trabalhando para minha pesquisa, que é o ano 1877, quando já havia a Lei do Ventre Livre, encontramos as cartas e abaixo-assinados dos proprietários locais que se posicionaram contra a Lei do Ventre Livre e se mobilizaram para que a abolição não chegasse a Campos antes de 1900 — comentou o pesquisador e escritor Eugênio Soares.
A comemoração ainda contou com abertura da Exposição “O Monitor Campista: Testemunho da História”, que segue de segunda a sexta-feira, de 9h às 15h. A mostra conta com grandes painéis e banners com reprodução de edições do jornal. Também estão expostas peças como a prensa, tão importante aos meios de comunicação no passado. A historiadora Rafaela Machado, frisa que a intenção da exposição é apresentar o acervo mantido como grande fonte de pesquisas.
— Essa exposição exigiu um processo cuidadoso e trabalhoso para atingirmos dois pontos. O primeiro é narrar um pouco da história do “Monitor Campista”, que também é difícil de ser contada porque passou por interrupções, transformações, mudança de donos. O outro ponto a ser atingido é apresentar este acervo como um ótimo instrumento de pesquisa — disse a historiadora do Arquivo.
Para fechar o dia de festa, a Associação de Capoeira Grupo Lampião e uma tradicional feijoada ocuparam solenemente o prédio construído em meados do século XVII na fazenda que chegou a contar quase 1.500 pessoas escravizadas, quando os jesuítas foram expulsos de Portugal e suas colônias em 1759.